Assim como a nicotina atua nos humanos, certos tipos de pesticidas afetam o sistema nervoso dos insetos.
Quanto mais se alimentam de néctar de plantas contaminadas ou tratadas por agrotóxicos, mais as abelhas desenvolvem um estranho apetite pelo “mix” de substâncias. A constatação preocupante vem de uma estudo britânico publicado nesta semana na revista científica Proceedings of the Royal Society B.
Essa preferência não é natural, mas adquirida. Segundo a pesquisa, desenvolvida por cientistas da Imperial College London e da Queen Mary University of London (QMUL), na Inglaterra, ao longo do tempo, as abelhas são atraídas pelo néctar contendo inseticidas neonicotinóides, o que pode aumentar suas chances de exposição a altos níveis de substâncias químicas.
Os neonicotinóides são uma classe de inseticidas derivados da nicotina. Algumas dessas substâncias tiveram o uso proibido na União Europeia e em alguns outros países, após estudos evidenciarem correlações dos produtos aplicados à lavoura com o declínio de populações de abelhas polinizadoras.
Análises anteriores indicaram que alguns polinizadores, como as abelhas, não são capazes de distinguir a presença de três tipos de neonicotinóides comumente utilizados na agricultura e, portanto, não conseguiriam evitá-los.
Na nova pesquisa, os cientistas realizaram um experimento durante 10 dias em que os insetos tinham à disposição uma variedade de comedouros com sacarose (néctar) contendo entre 0,2 e 11 partes por bilhão de um pesticida neonicotinóide, além de outros comedouros sem nada de pesticida. A intenção era reproduzir a exposição que ocorre na natureza, sob diferentes concentrações e durante um longo período.
O resultado? As abelhas demostraram uma preferência por alimentos que continham o inseticida. A proporção de visitas aos comedouros com o neonicotinóide aumentou ao longo do tempo, resultando em um maior consumo de sacarose que continha a substância em relação à sacarose sem nada.
Mesmo após os pesquisadores alterarem a posição espacial de cada comedor, as abelhas continuaram a visitar aqueles com o inseticida, o que indica que elas são sim capazes de detectar o tiametoxam e alterar seu comportamento para continuar alimentando-se dele.
A crescente preferência por consumir os alimentos tratados com neonicotinóides, concluíram os cientistas, aumenta o risco de exposição para toda a colônia. Os resultados, segundo eles, destacam a necessidade de incorporar esse gosto particular dos polinizadores por certos tipos de substâncias nas análises de riscos sobre pesticidas.
Assim como a nicotina atua nos humanos, os pesticidas neonicotinóides afetam o sistema nervoso dos insetos. Estudos têm demonstrado que a exposição aos neonicotinoides pode prejudicar as funções motoras, o aprendizado, a orientação e a navegação dos insetos, o que afeta diretamente a capacidade de captar alimento e de se reproduzir, colocando em risco a própria sobrevivência das colônias.
Considerando o papel vital desses polinizadores, uma exposição generalizada a defensivos agrícolas perigosos pode ter consequências graves para as culturas e a própria saúde dos ecossistemas.
Fonte:
https://exame.abril.com.br/ciencia/abelhas-desenvolvem-dependencia-quimica-de-agrotoxico-como-fumantes/